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Todo o balanço da Zabumba


Última chamada para o arrasta-pé. Hoje, Dia de São Pedro, encerram-se as comemorações da trinca de santos festeiros da cultura nordestina. Nos festejos juninos, a tradição pede canjica, quentão, quadrilhas, rojões, fogueiras – a cada ano mais escassas – e, principalmente, muito forró no salão. Sem forró não tem São João!
Nascido do baião, o gênero ganhou vertentes como o xote, o xaxado e outros ritmos que regem o compasso da folia matuta. A animação vem embalada pelo trio formado por triângulo, sanfona e zabumba. De Luiz Gonzaga a Dominguinhos, de Sivuca a Oswaldinho do Acordeon, os sanfoneiros sempre se destacaram quando o assunto era forró. Talvez por exigir um maior conhecimento harmônico e melódico, o instrumento "coroou" seus músicos e não permitiu fama e fortuna para os tocadores de triângulo e de zabumba.
Mestres do ritmo, ilustres desconhecidos
Quartinha, Pardal, Prego, Xexel, Nado Buchudo... Alguns dos nossos principais zabumbeiros possuem apelidos engraçados. A origem humilde é outro fato em comum. Todos confessam que tocar zabumba é o melhor que sabem fazer em suas vidas e, com exceção de Xexel, eles sobrevivem e sustentam a família há pelo menos 20 anos exclusivamente com o batuque do instrumento.Pardal, 37, é considerado a principal referência local até pelos próprios colegas. Não apenas pelo jeito performático e saltitante de tocar a zabumba – daí a origem do apelido –, mas pela extrema habilidade em conduzi-la. Ora com uma marcação firme ora com variações dignas de um virtuose do ritmo. Sobre quartinha... (ahh esperem por uma super entrevista com o mestre dia 04 de julho no Paraíba Percussiva, dia em que ele comemora 50 anos de zabumba)
Sobre a origem do termo
No Dicionário do Folclore Brasileiro, do pesquisador potiguar Luís da Câmara Cascudo, zabumba é sinônimo de “bumbo, tambor grande, bumba, bombo”. A origem do termo pode ser derivada do conguês bumba (bater), do grego bumbos (barulho) ou mesmo do latim bombu. Enquanto termo popular, “zabumba” também significa azar, ou uma reviravolta negativa na vida de alguém. Tal associação com o instrumento pode ter origem nas “quebras” de ritmo – as mudanças de andamento – que o zabumbeiro executa enquanto toca. Como muitos instrumentos percussivos, a zabumba não é exclusividade da cultura brasileira e encontra similares em diversas partes do mundo: do Marrocos ao Japão, de Portugal a Cuba e do México ao Chile, entre outros países.
Lugar de zabumba é na internet
Pode parecer uma contradição, mas é justamente no moderno ambiente da internet que é possível encontrar a maior quantidade de informações sobre o rústico instrumento que marca o ritmo do forró. O ponto de partida pode ser o Orkut. Ao todo, 108 comunidades do site de relacionamento trazem referências ao nome zabumba no título. Na comunidade Eu Amo Zabumba há seis, entre seus 346 membros, a opinar sobre quem é o melhor zabumbeiro do Brasil. Durval Pereira, Dió de Araújo e Quartinha são os nomes lembrados.
Fique por dentro
A zabumba dispensa explicações, mas para quem não ainda não associou “o nome à pessoa” vale lembrar que o instrumento é um tambor grande – com circunferência média entre 16 e 22 polegadas e espessura entre 6 e 10 polegadas – confeccionado com madeira ou metal. Presa ao pescoço do músico por uma longa correia, ela fica de forma diagonal na região do abdômen e é tocada simultaneamente com uma baqueta grossa na parte superior e uma vareta de bambu – chamada de “bacalhau” – na parte inferior.Como a maioria dos tambores, a zabumba possui dois lados revestidos com peles similares às utilizadas no bumbo de uma bateria, mas originalmente feitas a partir do couro do bode ou do veado. Na parte superior, a pele é mais grossa para reproduzir um som grave, ao contrário da pele inferior, que é mais fina e tira um som mais agudo. As engrenagens que prendem a pele ao aro são de metal e a afinação pode ser feita por tarraxas ou cordas, a depender do modelo.
CARACTERÍSTICAS DA ZABUMBA ARTESANAL DO LUTHIER
›› A madeira deve ser rígida e de alta densidade.
›› Ruy Pessôa utiliza a copaíba, de 4mm, nas bordas. Internamente há mais duas lâminas para o tambor. O cedro também pode ser utilizado.
›› A decoração é em machetaria (lâminas de madeira com texturas e cores diferentes).
›› Até ficarem prontas no formato do tambor, as lâminas são coladas em duas etapas de 24 horas.
›› A pele é feita de couro de bode.
›› A pele de baixo é mais esticada, para produzir um som mais agudo.

Fonte: Gazeta de Alagoas
Caderno B
Repórter: Fernando Coelho
Foto: Robson Lima

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