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Orientação para digitação com duas baquetas


Por Alison Shaw
Tradução de Germanna Cunha

Tocar teclados com duas baquetas é, muitas vezes, uma arte separada de tudo mais que nós fazemos em percussão. Naturalmente, há muitas considerações com relação à técnica magistral do toque com duas baquetas, mas orientações práticas para o toque são essenciais.

Frequentemente nós tomamos decisões sobre digitação baseadas na execução. Em outras palavras, nós usamos uma certa digitação porque ela faz com que a "passagem" se torne mais fácil de executar. É mais importante, todavia, tomar decisões de digitação baseadas no fraseado e expressão. Na maioria das vezes, se bom fraseado é a meta de uma escolha de digitação, a digitação naturalmente acomodará as questões técnicas na passagem.

É importante entender como a digitação afeta o fraseado. Quando nós caímos nisso, qualquer discussão sobre digitação para duas baquetas é realmente sobre quando usar e quando não usar o toque duplo. Há várias considerações gerais. A primeira é o tempo. Em tempo lento, notas não ruladas podem soar destacadas e separadas. Usar toque duplo em vez de toque alternado pode às vezes ajudar a criar a ilusão de um legato.

Um toque duplo também pode ser usado para dar a intenção de uma ligadura. Isto é particularmente útil em passagens tocadas em tempos rápidos. Usar um toque duplo, e permitir que o primeiro toque soe com um pouco mais de "peso" do que o segundo cria este efeito muito bem.

Uma outra consideração é o tipo do teclado. Uma vez que as notas naturais e acidentadas no vibrafone estão em um mesmo plano, toques duplos poderiam ser usados para tocar trechos suaves de uma passagem onde seriam usados toques alternados em um xilofone ou marimba. Algumas vezes também é útil empregar toques duplos em glockenspiel, de forma a não criar movimentos excessivos com a alternância. Com barras tão pequenas e uma possibilidade sempre presente de se escutar o som da "caixa", qualquer tentativa no sentido de eliminar o excesso de movimento no glockenspiel deveria ser considerada.

O maior impacto que a digitação pode fazer no fraseado é o modo como o toque duplo afeta a (ênfase/tensão) agógica. É prudente considerar como um toque duplo afetará a sutil inflexão de note groupings. Se um toque duplo deve ser usado, evite tocar a segunda nota em um toque forte e agógico.

Eu tenho seis regras antitoque duplo que gosto de seguir. Elas estão listadas aqui em ordem de importância. Eu nunca quebro a primeira regra. As cinco regras restantes são subjetivas, mas é mais desejável quebrar uma regra do fim da lista do que do começo. A digitação sugerida abaixo de cada exemplo indica soluções que nos permite evitar o toque duplo nos pontos problemáticos. A digitação em parênteses indica escolhas que poderíamos fazer para conforto técnico, mas deveria ser evitado por considerações de fraseado.

Regra 1: Nunca use um toque duplo de uma nota com o valor curto para uma de maior valor.
Razão: O fraseado natural geralmente requer que a tensão agógica seja no valor longo. No caso de um valor curto na "cabeça de tempo" (ex.: ♪♪) a tensão agógica é no valor curto, mas um toque alternado ainda é sugerido.
Ex. 1:



Regra 2: Não use um toque duplo de um compasso para outro.
Razão: Isto mantém o sentimento rítmico do compasso intacto. Novamente, sempre tente preservar a tensão agógica natural.
Ex. 2:
Exceção: Se um salto de grande intervalo for feito, o fraseado será mais fluído se o toque duplo for usado. Se um toque duplo deve ser usado de um compasso para outro, é importante não permitir que o segundo toque soe mais fraco.
Ex. 2a:



Regra 3: Não use um toque duplo entre os tempos. Se um toque duplo é necessário, é melhor colocá-lo dentro do tempo. (É melhor quebrar esta regra do que a regra n° 2).
Razão: Novamente, deixar o primeiro toque na parte forte do tempo mantém intacto o sentimento rítmico.
Ex. 3:

Exceções: Se são feitos saltos de grandes intervalos, o movimento horizontal "extra" necessário pode fazer com que o fraseado fique forçado e pesado. Neste caso é melhor usar toques duplos. Como ilustrado no exemplo 2a, é importante tomar cuidado com o segundo toque de forma que a tensão agógica permaneça intacta.
Ex. 3a:



Regra 4: Evite toque duplo do teclado natural para o dos acidentes.
Razão: Viajar de um plano inferior para um plano mais alto pode ser incómodo (difícil). Deslocar-se contra a gravidade em um movimento vertical forte pode criar um fraseado forçado ou pesado e uma quebra no fluxo da linha musical.
Ex. 4:



Regra 5: Evite toques duplos das teclas acidentadas para as naturais (é melhor quebrar esta regra do que a regra 4).
Razão: Embora este movimento seja certamente mais natural do que o movimento das naturais para os acidentes, a fluidez do fraseado pode ser afetada. Isto é especialmente verdadeiro se o intervalo entre as notas for pequeno.
Ex. 5:

Exeções: Em passagens repetitivas, a tensão agógica pode realmente ser auxiliada com o uso do toque duplo. O movimento é também menos forçado.



Regra 6: As vezes é necessário evitar toques duplos entre saltos de grandes intervalos.
Razão: Isto é mais importante nos tempos rápidos nos quais grandes saltos com uma mão podem causar uma quebra na fluidez e conexão da passagem. Isto também é impraticável às vezes porque é difícil a "precisão".
Ex. 6:

Exceção: Saltos de grandes intervalos seguidos por movimentos contrários na outra mão podem ser fraseados com uma maior fluidez se o toque duplo for usado.
Ex. 6a:




Como com todas as orientações, há decisões que irão diferir de peça para peça. As orientações dadas aqui sobre toque duplo são simplesmente um começo. Há, certamente, exceções para essas ideias, mas eu acho que é de verdadeira ajuda começar com estas "regras" quando estou estudando um novo trabalho para duas baquetas. Eu quase sempre uso as três primeiras regras. As três últimas tem muito mais espaço para exceções.

O conceito mais importante é planejar sua digitação de acordo com o fraseado desejado e efeito musical. Com frequência também escolhemos nossa digitação para acomodar a técnica, apenas para descobrir que nossa digitação então, controla ou limita nossa habilidade de fraseado.



Alison Shaw é professora assistente de percussão na Universidade Estadual de Michigan, onde é coordenadora dos estudos de percussão e dirige o programa do grupo de percussão. Ela atua como percussionista principal na Flint Symphony Orchestra, e também faz tournées e gravações com a New Columbian Brass Band e com a Brass Band of Battle Creek. Shaw participa do P.A.S. College Pedagogy Commette, é presidente do Michigan P.A.S. State Chapter, e é uma editora associada da Pecussive Notes.

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