
Hostilidade
A aproximação com a Nenê deu-se em 2005 quando Guilherme Lucrécio, integrante da Alcalina e neto do “Dr. Lucrécio”, um dos históricos fundadores da escola, levou o grupo para conhecer a agremiação. Convidados a participar da bateria, passaram a frequentar os ensaios tocando caixa e vivenciaram um período inicial que Francisco classifica como de hostilidade, principalmente por parte dos ritmistas mais jovens.
“Numa comunidade bastante fechada, marcada pela negritude, um elemento de fora e branco, destoava do conjunto da bateria matildense. Guilherme foi menos hostilizado, já que possuia ligações familiares com a escola e é negro”, conta Francisco. Apesar do ambiente inicialmente desfavorável, permaneceu no grupo e participou dos desfiles até 2009, período em que pode aprender diversos aspectos rítmico-musicais da bateria da Nenê.
“A constância nos ensaios fazia com que eu memorizasse e incorporasse nuances rítmicas do grupo”, relata Francisco. Em 2008, teve a oportunidade de atuar como diretor de bateria de outra escola paulistana, a Acadêmicos do Tucuruvi, sem deixar o posto de ritmista da Nenê, o que exigiu do pesquisador muito fôlego e jogo de cintura, já que ambas desfilaram na mesma noite.
“Eu saí da dispersão (fim da avenida do desfile) como diretor da Tucuruvi e voltei à concentração (início da avenida) para desfilar como ritmista pela Nenê, sem ninguém saber”, confidencia o professor de percussão e rítmica.
A experiência, afirma, foi extremamente importante para a pesquisa, principalmente pela expansão de horizontes dentro do universo das escolas e para criar parâmetros de comparação do ritmo matildense com o de outras baterias de São Paulo e até do Rio de Janeiro, já que ele também foi observar de perto baterias de agremiações fluminenses e constatou que as principais influências para a Nenê foram as da Mangueira e Portela.
“O pai de ‘Seu’ Nenê era carioca e ele tinha parentes no Rio. Isso lhe possibilitou vivenciar ensaios e rodas de samba nas principais escolas cariocas”, observa Francisco.
É a partir do contato com a realidade carnavalesca do Rio de Janeiro que a bateria matildense passa a desenvolver um estilo mais próximo da maneira carioca de tocar, assimilando no fim da década de 1950 as inovações rítmicas trazidas do Rio de Janeiro pelo dirigente. Até então, explica o músico em sua pesquisa, o ritmo apresentado nos desfiles paulistanos era o da marcha-sambada dos tradicionais cordões carnavalescos, caracterizada pelo uso de instrumentos de sopro e embasado no samba de bumbo do interior do Estado, cuja sonoridade da instrumentação é bastante diferente.
É a partir do contato com a realidade carnavalesca do Rio de Janeiro que a bateria matildense passa a desenvolver um estilo mais próximo da maneira carioca de tocar, assimilando no fim da década de 1950 as inovações rítmicas trazidas do Rio de Janeiro pelo dirigente. Até então, explica o músico em sua pesquisa, o ritmo apresentado nos desfiles paulistanos era o da marcha-sambada dos tradicionais cordões carnavalescos, caracterizada pelo uso de instrumentos de sopro e embasado no samba de bumbo do interior do Estado, cuja sonoridade da instrumentação é bastante diferente.
“Com a oficialização do carnaval de São Paulo e a adoção de um regulamento baseado no carnaval do Rio de Janeiro, o modelo carioca de escola seria imposto a todas as agremiações paulistanas. A bateria matildense sai na frente das demais e, com a vantagem de ter seu ritmo já calcado no estilo carioca, leva a Nenê à conquista de três carnavais consecutivos, em 1968, 1969 e 1970”, historia o professor.
Por Chico Santanna
Fonte: Jornal da UNICAMP
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