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A história da conga - Parte V

Texto de Nolan Warden
Tradução de Juliana Bastos

1950 ao Presente

As tumbadoras e a música latina em geral ganharam popularidade durante a década de 1950. Nos Estados Unidos, um mambo "craze" varreu o país e atingiu o seu apogeu com a chegada do cha-cha-cha (*). Entretanto, um importante desenvolvimento musical das tumbadoras estava tomando lugar em Cuba.


Em 1952, o grupo folclórico de rumba chamado Guaguanco Matancero gravado um hit chamado "Los Muñequitos" (**). Isto foi significativo não só para o desenvolvimento musical das tumbadoras, mas também para o crescente apoio popular à música folclórica afro-cubana. Finalmente, após anos de ser aplicada em outros estilos musicais, as tumbadoras foram ganhando sucesso com o estilo musical que as criou. Este recém-descoberto apoio à música folclórica afro-cubana também fez o seu caminho para os Estados Unidos, ajudando a estabelecer muitos percussionistas.


Um deles, Ramón "Mongo" Santamaria, fez sua estréia como um líder de banda em 1958, com um álbum de música folclórica afro-cubana chamado Yambu. Apesar de outros tocadores de tumbadora também terem sido líderes de banda anteriormente (por exemplo, Miguelito Valdés e Chano Pozo), Santamaria foi o primeiro a alcançar sucesso a longo prazo. Algumas de suas canções, como "Afro-Blue", tornaram-se padrões, e sua gravação de "Watermelon Man", de Herbie Hancock, foi um tremendo sucesso. Santamaria levou as tumbadoras a outros estilos populares de música, como o R & B. Este atravessar foi apenas um dos muitos sucessos da presença das tumbadoras na cultura musical estadunidense.


É interessante que as tumbadoras, enquanto seu patrimônio era relativamente desconhecido, foram adotadas tão detalhadamente em outras culturas. No início da década de 1950, poetas de Nova York "oriundos da classe média" passaram a pegar um bongô ou tumbadora para acompanhar os seus trabalhos, mas a integração vai mais longe. O Rock começou a utilizar tumbadoras freqüentemente durante a década de 1960, proporcionando um reconhecimento nacional mais amplo dos tambores. Tumbadoras foram utilizadas por várias bandas em Woodstock (mais notavelmente Santana) e eram comumente vistas em performances televisivas. No entanto, estilos musicais populares não foram os únicos a adicionar os sons das tumbadoras. [Foto: Mongo Santamaria. BMI Archives].


Orquestras e bandas musicais têm também feito uso de tumbadoras. Desde a década de 1920 em Cuba, compositores classicamente treinados foram acrescentando percussão orquestral afro-cubana às suas peças.


Fora de Cuba, autênticos ritmos e instrumentos foram inseridos lentamente no reino da música clássica, mas recentemente tiveram mais impacto. Um exemplo significativo disso é um trabalho recente de Osvaldo Golijov intitulado “La Pasion Según San Marcos”. Uma paixão coral na tradição de Bach, assombra audiências integrando com sucesso instrumentos e ritmos afro-cubanos, venezuelanos e brasileiros.


Na sala de aula, o impulso para uma educação "multicultural" levou à adoção de tumbadoras como um instrumento “topa-tudo”. Sendo amplamente disponíveis e relativamente baratas para produção em massa, as tumbadoras tornaram-se quase um equipamento padrão para as bandas escolares estadunidenses. Essa presença levou, ainda, algumas escolas a desenvolver programas de estudo que envolvessem tumbadoras no currículo.


Reconhecendo a importância e popularidade da percussão tocada com as mãos, a Berklee College of Music, em Boston, se tornou a primeira instituição a permitir que os estudantes tivessem a tumbadora como instrumento principal (em adição a outros instrumentos de percussão tocados com as mãos). É também provavelmente a primeira escola de música a incorporar as tumbadoras no currículo. Isso começou no final da década de 1970 com Pablo Landrum ensinando e, em meados da década de 1980, com Joe Galeota ensinando numa classe denominada "Latin Percussion. "No final desta década, Ed Uribe desenvolveu o currículo oficial de percussão tocada com as mãos, o que permitiria aos alunos se graduarem nessa modalidade. Outros instrutores, tais como Carmelo Garcia em 1990, foram contratados para ajudar Uribe com o funcionamento deste novo programa.


Um ano mais tarde, a Berklee contratou Giovanni Hidalgo, um mundialmente famoso tocador de tumbadora que revolucionou conceitos de técnica de velocidade no instrumento. A presença de Hidalgo no departamento ajudou a espalhar a notícia sobre o programa, trazendo estudantes de todo o mundo (***). Embora Berklee continue a ser o único colégio estadunidense onde alguém pode se graduar em percussão tocada com as mãos, a importância de preparar estudantes em todos os estilos da música levou muitos departamentos de percussão a adicionar as tumbadoras em seu currículo.


A América do Norte não foi o único lugar a aceitar e aplicar as tumbadoras à sua própria música. Na verdade, pode-se afirmar que a África seja o lugar que tem integrado tumbadoras em sua música com o maior zelo possível. A música cubana ganhou tremenda popularidade africana em países como o Mali, Senegal, Camarões, Congo e, gerando estilos como a Rumba Africana e o Soukous. Na verdade, alguns dos maiores astros africanos da atualidade, como Youssou N'Dour e Baaba Maal, tiveram seu início tocando música cubana para o público africano (****). Agora, mesmo em estilos populares africanos não baseados na música cubana, as tumbadoras podem ser encontradas com certa regularidade.



Hoje, as tumbadoras são tão amplamente disponíveis, que, muitas vezes, substituem os tambores que nasceram com ela - o bembé, Makuta e Yuka. Mesmo fora de Cuba, eles têm encontrado lugar na música e nas instituições de quase todos os cantos do globo. Como tal, eles também têm sido reconhecidos, sentados nos armários de percussão dos departamentos e sendo utilizados como tambores étnicos "topa-tudo". [Foto: Giovanni Hidalgo. Foto de Martin Cohen, cortesia de LP/conghead.com]

Espero que este artigo tenha começado a abordar o problema dando ao leitor uma compreensão e apreciação mais profunda desses instrumentos culturalmente fascinantes, ainda que solenes.


BIBLIOGRAFIA


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Nolan Warden graduou-se em Magna Cum Laude na Berklee College of Music com uma dupla habilitaçaõ em Hand Percussion Performance and Music Business. Antes de Berklee, Nolan estudou percussão orquestral na Indiana University School of Music. Ele foi a Cuba duas vezes para estudar e documentar a percussão folclórica afro-cubana. Atualmente, ele é etnomusicólogo graduado pela Tufts University, ensina e toca na área de Boston.


(*) Cha-cha-cha é o nome completo para o estilo por vezes referidas nos Estados Unidos apenas como "Cha-cha".
(**) A popularidade desse som mais tarde levou o grupo a mudar seu nome para Los Muñequitos de Matanzas. O grupo ainda existse hoje sobre o nome que é considerado por muitos como o último grupo de Rumba Cubana.
(***) Datas específicas dizem que o programa de percussão tocada com as mãos da Berklee surgiu da comunicação entre Mikael Ringquist (atual coordenador do programa), Ed Uribe, Joe Galeota, e Dean Anderson (chefe do departamento de percussão).
(****) Sue Steward, ¡Musica! London: Thames & Hudson, 1999.

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