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A história da conga - Parte II

Texto de Nolan Warder
Tradução de Juliana Bastos

Tamanhos

Para complicar ainda mais, o termo genérico tumbadora pode ser abandonado em favor de uma denominação mais específica com base no tamanho ou na aplicação de um conjunto. Por exemplo, tumbadoras utilizadas na rumba podem ser referidas especificamente como salidor e tres golpes, dependendo da parte em que são tocadas. Isto é, em algo, semelhante à maneira como o snare drum pode significar muitas e diferentes coisas dependendo de seu tamanho e aplicação (por exemplo: caixa de concerto, caixa piccolo, field drum, etc.).

As palavras quinto, conga e tumbadora são agora usados como um consenso entre percussionistas e vendedores para indicar tamanho. Quinto, o menor tambor, tradicionalmente se refere à linha mestra na rumba. Conga refere-se aos tambores médios, e tumbadora see refere ao maior tambor. Alguns fabricantes já produzem requintos (extra-pequenos) e/ou supertumbas (maiores). Não se deve inferir, no entanto, que tambores com esses nomes nunca foram usados juntos num conjunto tradicional.


Pronúncia

Outra coisa a considerar é a pronúncia dessas palavras. Se você escolhe dizer conga ou tumbadora, é melhor se pronunciar corretamente! A maior parte das pessoas que falam inglês pronuncia conga como "Cahnga", mas é mais correto pronunciar com o som espanhol da vogal “o” (CONE-gah). Pronúncias, como a "Koonga" ou "kuhnga" acontecem em certos círculos de percussão, mas estes não são baseados numa pronúncia tradicional. Elas são provavelmente apenas tentativas de fazer a palavra soar mais exótica.
Tumbadora é também melhor pronunciada com um sotaque espanhol e um acento no "o" (tumb - como a tumba da múmia; a - um longo "a"; dora - como o nome Dora, mas com um ligeiro ‘amassar’ do "r").
Então, agora que estamos começando a falar a mesma língua, vamos analisar de onde esses tambores vieram.


Origens

A tumbadora é, verdadeiramente, um instrumento híbrido, o resultado de muitas influências africanas e cubanas. Embora muitos fontes falem apenas sobre a origem Bantu (aka Congolesa) das tumbadoras, o que observamos é a simplificação de um fenômeno mais complexo. Para obtermos um melhor ponto de vista, devemos considerar alguns eventos culturais e históricos precursores.



Após a abolição da escravidão em Cuba em 1886, um grande número de negros começou a migrar das plantações e regiões metropolitanas para áreas urbanas, especialmente para as áreas em torno de Havana e Matanzas. Empregos eram escassos, porém, com um enorme influxo de trabalhadores. Faltando meios financeiros, eles passaram a viver na periferia da cidade e se agruparam noque ficou conhecido como solares (favelas)(*). Isto tornou-se o pano de fundo essencial para o desenvolvimento das tumbadoras e de uma música percussiva conhecida como rumba. E, uma vez que a maioria dos cubanos escravos eram provenientes de países de língua Bantu da área conhecida como o Congo, era natural que suas culturas permeassem os solares de Cuba. [Foto: A área historicamente conhecida como Congo]

Algumas fontes falam de tambores de Ngoma Bantu como sendo os antepassados culturais dos tumbadoras. No entanto, isto não é preciso. Primeiro, temos de considerar que a área historicamente chamada de "o Congo" não é apenas um país ou grupo de pessoas. Na verdade, historicamente, ela se refere a uma grande área do centro de África que inclui muitas línguas e grupos étnicos derivadas do Bantu. Portanto, quando os escravos cubanos originários de diferentes áreas do Congo disseram ngoma, eles poderiam estar falando de tambores completamente diferentes.

Ainda hoje, a palavra ngoma na África refere-se a vários tipos de tambores. Quando os escravos do Congo chegaram em Cuba, eles provavelmente descobriram que ngoma era uma palavra comum entre os seus muitos dialetos, embora não necessariamente fizessem referência aos mesmos tambores. Ortiz afirmou que, "Em Cuba, de um modo geral, todos os tambores da linhagem do Congo são reconhecidos com o termo bantu genérico ngoma.". Então, se ngoma não é um termo preciso para os tambores Bantu que influenciaram as tumbadoras, o que ele é?

Os tambores específicos associados com o povo banto em Cuba são os Makuta (mah-kú-tah) e o Yuka (yúcah). Para agora, ambos ainda são ocasionalmente chamados de ngoma. Conjuntos Makuta são encontrados em cerimônias religiosas, enquanto os tambores Yuka são seculares. Esta é uma ponto importante, pois significa que os tambores Makuta podem ter sido reservados apenas para uso em cerimônias fechadas e secretas, enquanto os tambores Yuka podiam ser ouvidos e usados por qualquer um nos solares. Apesar de a percussão Yuka ter influenciado grandemente a rumba, é interessante considerar que os tambores Makuta (especialmente os maiores, aqueles de baixa frequência) têm uma maior semelhança física com as tumbadoras.


(*) Olavo Alén Rodriguez, "Uma História do Congas, "The Cookbook Conga. Nova Iorque: Cherry Lane Music, 2002. Artigo disponível on-line: http://www.chucksilverman.com/congahistory.html.

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