Por volta de 1700 os tímpanos estavam firmemente estabelecidos (embora ocasionalmente usados) como instrumentos de orquestra indispensáveis para criar uma atmosfera de pompa, festividade e drama, especialmente em óperas e músicas "de concerto" tocadas em igrejas. J. S. Bach fez um importante uso do tímpano em suas duas Suítes Orquestrais em Ré maior, escritas para o Collegium Musicum da Universidade de Leipzig, bem como em seu Oratório de Natal e várias de suas Cantatas para igreja. Handel usou estes instrumentos para dar um clima grandioso aos corais de seus oratórios e em peças festivas como seu Dettingen Te Deum e Ode on St. Cecília 's Day. Em suas óperas, Rameau usou o tímpano de forma rara, porém eficaz.
Em meados do século, o tímpano passou por um período de declínio. A razão mais provável está na mudança do som orquestral entre 1740 e 1775, causada pelo desaparecimento do clavicórdio ou órgão contínuo, a sua substituição por acordes sustentados de instrumentos de sopros, o desaparecimento do "clarim virtuoso" como estilo de tocar trompete, e o uso apenas das partes graves das séries harmônicas nos instrumentos naturais de meta. O tímpano ainda retornou a uma posição de importância nas últimas três décadas do século XVIII. Haydn foi um percussionista que poderia repreender timpanistas incompetentes e repetir anedotas sobre maestros (assim como hoje) que não sabiam nada sobre os problemas da percussão. Quandc jovem, em Salzburg, Mozart escreveu agradáveis obras de câmara para sopros e tímpanos que possuíam passagens solo para estes instrumentos. Por volta de 1790 os trabalhos orquestrais que não requeriam tímpano eram uma raridade.
Os acessórios de percussão, frequentemente conhecidos como Turkish Music ou Janissary Music, vieram das bandas militares turcas para a música europeia via Polónia e Áustria, entre 1768 e 1780. Estes instrumentos eram usados para criar uma atmosfera do Oriente Próximo t(Abduction of The Seraglio, de Mozart, Abu Hassan, de Weber) ou da banda militar (Sinfonia n" 100, de Haydn, Sinfonia n° 9, de Beethoven, último movimento). A música turca se tornou tão popular que por volta de 1800 alguns pianos eram equipados com um pedal janízaro, que produzia crashes de percussão que podiam ser adicionados pelo pianista quando estivesse tocando uma marcha ou peça de batalha.
Os instrumentos "turcos" básicos eram um triângulo, um bombo e um par de pratos. O triângulo era frequentemente equipado com anéis em sua base para fornecer um tilintar adicional que mantivesse colcheias ou semínimas constantes através da peça. O bombo era mais alongado e tinha um diâmetro muito menor do que os bombos de hoje. Ele era tocado com uma baqueta de madeira ou, ocasionalmente, baqueta acolchoada em uma mão (notas grafadas com as hastes para baixo) e um feixe de varinhas ou uma varinha de metal na outra mão (notas grafadas com as hastes para cima). Na marcha ele era conduzido na horizontal, tocado como se fosse um tímpano, e esta é a melhor posição para o bombo na orquestra. A posição vertical do bombo é aceitável apenas se um prato for fixado no topo do corpo do instrumento e ambas as partes (bombo e prato) tocadas por um instrumentista. Isto é uma característica especialmente da orquestra de ópera francesa e italiana entre 1810 e 1870. Os pratos não eram diferentes dos nossos pequenos pratos de orquestra, eram relativamente pesados (em comparação com os finos pratos chineses, ou cinellï), e tinham um som razoavelmente agudo fazendo jus a seu nome Britânico de "clash-pans". Pinturas e descrições do tímpano do século XVIII mostram grande variação de tamanho.
Em seu Gabinetto Armonico de 1723, Filippo Bonmni retratou um par de tímpanos, o maior dos quais não poderia ter excedido 20 polegadas de diâmetro. Uma ilustração mais convincente é encontrada no Musicalishes Theatrum de Johann Christoph Weigel, por volta de 1713, na qual os tambores têm o mesmo tamanho, mas não são tão esféricos quanto os tímpanos de hoje. Os tímpanos da Royal Artillery, os quais Handel pediu emprestado para várias apresentações de seus oratórios, eram maiores do que os tímpanos convencionais da época. Charles Burney, o historiador músical do fim do século XVIII, afirmou que os melhores tímpanos eram mais cilíndricos do que hemisféricos e descreveu um par de tímpanos "baixo" com 35 e 39 polegadas de diâmetro, especialmente construído para a comemoração do Festival Handel de 1784.
Há uma considerável incerteza soore o material usado nas cabeças das baquetas de tímpano. Ilustrações de Bonanni mostram baquetas tipo cartwheel, mas os detalhes são tão obscuros que ninguém pode dizer se o material era madeira ou tecido. As cabeças de madeira das baquetas na ilustração de Weigel têm um bom diâmetro (cerca de três polegadas), mas a superfície usada para tocar não pode ter mais de meia polegada de altura. Nenhuma afirmação pode ser feita sobre o material usado nas cabeças das baquetas, mas é provável que as que eram feitas de madeira ou marfim, altamente apropriadas para propósitos externos tais como sinalizações militares ou paradas, não teriam sido usadas exclusivamente na música tocada em recintos fechados. As indicações de Cherubini e Andréas Romberg para tímpano "com sordino" em suas cenas de funeral sem dúvida significam mais baquetas macias do que o tambor abafado, já que as partes de tímpano especificam rulos que seriam impossíveis de executar de forma sonora, suave e clara, quando o tambor é abafado com um tecido. Embora seja mais prováve! que as partes de tímpano nos trabalhos de J. S. Bach, Handel, e Rameau fossem frequentemente executadas com baquetas de cabeça dura, ninguém pode imaginar baquetas de madeira tocando rulos de tímpano em pianos magistrais como ocorrem em Don Giovanni, de Mozart. Por outro lado, os rulos pianíssimos não ocorrem com muita frequência na música orquestral de Haydn, ele pede toques simples em tais obras primas de escrita restrita para tímpano, como no movimento lento de sua Sinfonia n° 102 ou na "Representation of Chaos" em "The Creation".
Extraído de: Longyear, Rm M. (Trad. Cunha, G.). A percussão na orquestra do século XVIII in 1ª Jornada Interestadual de Percussão - 01 e 02 de junho de 2006. Espaço Cultural. João Pessoa.
4 comentários:
Não sei se o Longyear faz menção disto em outra parte do livro, mas é relevante lembrar que pequenas percussões (sobretudo pandeiros e tambores) era sistematicamente usadas nas orquestras no sec. XVII na França nas óperas e balês dramáticos (Lully e Rameau são os mais conhecidos expoentes destes gêneros), sem que isto consiste numa alusão as músicas "turcas" mas sim, as músicas populares provençais.
Olá! Sobre os "timbales" em Bach. Ou faltam textos mais conclusivos na peça ou a informação peca por imprecisão e simplismo. O "Collegium Musicum" de Leipzig nada tinha que ver com a Universidade senão pelo facto de alguns dos músicos virem de lá. O que também era natural uma vez que a Universidade formava músicos e consequentemente eles iriam para algum lugar.
O "Collegium" foi formado em 1702 por Telemann (amigo de Bach dos tempos de Weimar - 1708 e seguintes - após 1705 Telemann deixou Leipzig e no seu lugar, por sua influência, ficou Georg Balthasar Schott (em 1723 um dos candidatos ao lugar de Kantor na cidade). Bach assumiu a diecção em 1729. O "Collegium Musicum" funcionava no Inverno na Catherstrasse, hoje Katharinnenstrasse e na altura a principal rua de Leipzig, o seu proprietário era o alugador do espaço e dono do café que servia de suporte ao "Collegium" Gottfried Zimmermann (o local foi destruído durante a 2ª Guerra Mundial).
Paulo Cruz (Lisboa), 6 Junho 2009
Olá, uma vez mais.
Não querendo monopolizar o vosso Site, mas ao mesmo tempo aproveitando a participação proposta e porque o seu contexto aborda a percussão e, finalmente, porque a “minha especialidade” é Bach, gostaria de acrescentar que entre as obras que dele conhecemos, pelo menos 51 cantatas mais 8 outros trabalhos utilizam “tímbales”, num total de pelo menos 59. Especialmente em coros/corais de abertura ou finais. Os 8 trabalhos incluem 3 cantatas do “Weihnachtsoratorium” (Oratória de Natal BWV 248, que como se sabe são 6 cantatas e destas apenas 3 utilizam percussão), Magnificat BWV 243 e 243a, Sanctus BWV 237 e claro a Missa em Si Menor BWV 232.
Uma nota ainda para acrescentar que este número, sobretudo de cantatas, se baseia no que conhecemos, e o que conhecemos é muito e, ao mesmo tempo, pouco. Quer dizer. Bach entre Weimar, Köthen e especialmente Leipzig, terá tocado (tocado e não composto), pelo menos 1350 cantatas em toda a sua vida. Ora apenas sobreviveram cerca de 370 cantatas (completas, incompletas ou com conhecimento de que existiram). Destas 370 cerca de 225 são obras padrão, ou seja, foi a partir delas que Bach foi repetindo, reformulando ou readaptando. Na verdade essas cerca de 225 cantatas pertencem aos períodos de Weimar, Köthen e aos anos iniciais de Leipzig. Sabe-se que a partir de 1730 e sobretudo 1740, Bach começou a compor menos e a repetir mais, o que até vem a propósito da tomada da direcção do “Collegium Musicum”, local onde era tocada a sua (e não só sua) música profana, o que lhe retirou algum tempo. A idade e os desencontros ideológicos com os clérigos de Leipzig também motivaram alguma desmobilização. Não restam muitas dúvidas de que os últimos anos de produção (e vida) de Johann Sebastian em Leipzig tiveram uma reduzida componente de obras novas. As cerca de 225 cantatas padrão é um número relativamente seguro quanto a este género de composição, mas não quanto ao número de cantatas tocadas. Finalmente e ao contrário de outros Kantor (em Leipzig ou não, inclusive os seus filhos) Bach nunca recorreu a material de terceiros para as suas obrigações (e o contrato permitia-lhe que o fizesse), e quando o fez foi em ocasiões muito especificas e por ele assinaladas.
Mais uma vez obrigado pela vossa atenção. Disponham.
Paulo Cruz (Lisboa).
Olá Paulo! agradecemos imensamente sua colaboração sobretudo por este ser um espaço democrático não só para informações mas também de discussões. Não temos seu contato. Gostaríamos de convidá-lo para escrever uma abordagem sobre o tema para uma futura postagem em nosso blog. Entre em contato conosco. Um abraço!!
paraibapercussiva@yahoo.com.br
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